O jovem João Vinicius Ferreira Simões, de 25 anos, que faleceu após sofrer uma descarga elétrica em um evento no Riocentro, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, acidentalmente tocou em um food truck energizado ao tentar se levantar do chão onde estava sentado, segundo relato de uma testemunha. Um vídeo revela que a fiação dos carrinhos estava exposta em poças d’água sem proteção contra a chuva.
A estagiária Juliana Oliveira, de 23 anos, contou que foi ao food truck antes de João, para pedir que um funcionário enxugasse seus óculos para que ela pudesse enxergar melhor na chuva e encontrar seus amigos. Quando o atendente pegou seus óculos, ambos receberam um leve choque, explicado pelo funcionário como sendo devido ao trailer estar energizado.
“Quando fui entregar meus óculos no trailer, levei um choque. Eu e o rapaz que estava dentro do trailer levamos um choque. Eu estranhei, olhei para ele e perguntei por que levamos um choque, e ele respondeu com uma risada, meio que disfarçando. Eu não sabia que o trailer estava energizado naquele momento. Depois de entregar meus óculos em uma área sem condução de energia, ele pegou um papel para limpá-los e me devolveu da mesma forma. Ele me disse que o trailer estava energizado por ser todo de metal”, relatou.
Após o incidente, João se aproximou do food truck para se abrigar da chuva e recebeu um leve choque ao tocar no veículo. Em seguida, ele se sentou em um caixote e começou a conversar com Juliana. O jovem cedeu seu lugar para ela quando ela mencionou estar com dores nas costas devido à posição. Foi então que ela notou a presença de cabos de energia passando entre as poças d’água. Um vídeo mostra a fiação ligada a uma extensão, exposta à chuva.
“Antes dele tocar no food truck, eu avisei ‘cuidado, está dando choque’. Ele encostou o braço e o retirou imediatamente ao levar um choque. Ele se afastou e sentou-se em um caixote próximo ao trailer, ainda protegido da chuva. Ele estava tentando ligar para a equipe de transporte que ele tinha pego. Pelo que entendi, ele estava sozinho. Começamos a conversar e eu mencionei minhas dores nas costas por causa da posição em que estava, tentando proteger minha mochila. Então, ele me fez sentar no caixote. Foi aí que comecei a prestar mais atenção ao redor. A grama estava encharcada, havia cabos de energia passando em uma vala cheia de água, como se fosse um riacho, com os fios ali”, disse.
Segundo Juliana, João sentou-se na grama porque já estava molhada, e a conversa continuou. Quando ele tentou levantar-se para se abrigar em outro lugar, desequilibrou-se e tocou novamente no food truck, recebendo uma descarga maior do que antes. A testemunha disse que o corpo do estudante de Educação Física caiu encostado no carrinho, e ela começou a gritar por ajuda.
“Ele tentou levantar-se, desequilibrou-se e encostou no food truck com o braço molhado, recebendo uma descarga mais forte. Ele caiu de costas para mim. Quando tentei tocar nele, percebi que também seria atingida pela descarga elétrica. Vi o braço dele se contorcer, ele ficou todo torto. Comecei a gritar por ajuda, e as pessoas no trailer também começaram a gritar. Alguns tentaram se aproximar para ajudar, mas eu os impedi, pois muitas pessoas poderiam sofrer o mesmo acidente. Quando desligaram o disjuntor, consegui puxá-lo e foi quando vi o estado dele. Sua língua estava roxa e seus olhos estavam perdendo o brilho. Foi quando alguém começou a fazer massagem cardíaca nele”, concluiu.
O caso está sendo investigado pela 32ª DP (Taquara). De acordo com Roberta Ferreira, mãe de João, os agentes estão ouvindo todas as pessoas que tomaram choque no evento e tiveram contato com o jovem. A polícia está investigando se houve imperícia e negligência por parte dos organizadores. Testemunhas, familiares da vítima e membros da equipe do evento já foram convocados para prestar depoimento.
Na terça-feira (12), os investigadores estiveram no Riocentro para realizar uma perícia adicional. No local, o food truck responsável pela descarga elétrica que atingiu a vítima foi encontrado vazio e limpo. Durante a perícia, foram encontrados fios dentro de um bueiro com água.
João, que era um grande fã do Flamengo, foi sepultado no domingo (10) no Cemitério Municipal de Maricá, na Região Metropolitana do Rio. Ele estava no sétimo período do curso de Educação Física e sonhava em se tornar professor. João já trabalhava como personal trainer em uma academia em Niterói, também na Região Metropolitana do Rio.
Posicionamento da empresa organizadora do evento:
A empresa 30e, produtora do evento I Wanna Be Tour, informou através de suas redes sociais que está colaborando com as autoridades para esclarecer o que aconteceu com o jovem. A empresa afirmou que, até o momento, as informações indicam que o food truck, onde João Vinícius foi atingido pela descarga elétrica, estava operando conforme as normas. A produtora expressou seu pesar pelo ocorrido e informou que está oferecendo apoio à família da vítima.
Confira a declaração completa:
“Na noite de sábado, 9 de março, durante o evento I Wanna Be Tour no Riocentro, uma forte chuva atingiu o Rio de Janeiro, levando o público a se abrigar sob a marquise coberta, seguindo os protocolos de segurança.
Infelizmente, nesse momento, ocorreu um incidente na área descoberta próxima a um food truck terceirizado, onde o jovem João Vinícius Ferreira Simões foi atingido por uma descarga elétrica. O sistema de segurança foi ativado imediatamente para prestar socorro.
Apesar dos esforços das equipes médicas do evento e do hospital, o jovem não resistiu. A 30e, produtora do evento, lamenta profundamente e está colaborando com as autoridades para esclarecer o ocorrido. Até o momento, as informações indicam que o food truck estava operando conforme as normas. A produtora já entrou em contato com a família do jovem para prestar solidariedade e apoio.”
O Riocentro também lamentou profundamente o incidente e informou que o jovem foi prontamente socorrido pela equipe de emergência contratada pela organizadora do evento, que o encaminhou ao hospital. A administração do centro de convenções está acompanhando de perto o caso, em colaboração com a organização, para garantir que a família receba toda a assistência necessária.
Fonte: O Dia.
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